quinta-feira, 23 de abril de 2009

Prezados Imortais da Academia Brasileira de Letras,


Saudações cordiais.


É com civismo e humildade que comunico aos senhores, luminares maiores de nosso idioma pátrio, que a seguinte definição carece de substantivo vernacular dicionarizado:

_______________. (subst.): 1.Gratidão profunda por ações futuras. 2.Antecipação nostálgica. 3.Saudade intensa de situações ainda não vividas. 4.Desejo ardente de repetir o que ainda não se fez, ou de rever quem ainda não se viu.

Por obséquio, queiram Vossas Senhorias interromper brevemente vosso protocolo de chás e cerimônias para criar logo uma palavra que remedie tão infame lacuna.

Certo da vossa compreensão,

Fabiano Schüler

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segunda-feira, 20 de abril de 2009

Life on Mars

É o nome da nova série policial de rede ABC, recém-chegada à TV brasileira por meio do canal FX. A trama é centrada no personagem Sam Tyler (Jason O'Mara), um detetive que é atropelado durante uma perseguição em 2008 e se vê transportado no tempo até a Nova York de 1973.

Ele leva a pancada, cai no chão, desmaia, abre os olhos e está lá, inteirão, 35 anos atrás, sem nem mesmo o clichê de aparecer numa época vestido com as roupas de outra. Isso porque, contrariando a lógica hipotética da viagem no tempo, o sujeito já acorda no meio da rua com calça boca-de-sino e gola volta-ao-mundo. O momento "oh" se dá quando ele, recém-desperto e ainda meio sem entender o que se passa, ergue os olhos e vê as Torres Gêmeas do World Trade Center reluzindo ao amanhecer.

O chefe da delegacia onde ele vai trabalhar (sim, ele acorda em 73 com um emprego garantido e todos os documentos em dia) é interpretado pelo Harvey Keitel. Grande cara. Foi o responsável por me dispor a assistir ao primeiro episódio. E acho seguro dizer que eu gostei.

O que parece spoiler nesse caso não é: já no episódio de estreia, Sam conclui que na verdade continua em 2008, em coma, e que no fim das contas está sonhando tudo aquilo. Ele vê os médicos tentando falar com ele pela TV e ouve a voz de entes queridos no rádio do carro. Em cima dessa premissa é que toda a série se constroi, e eu estou curioso para ver como isso será feito.

Quem já tiver assistido aos episódios seguintes, por favor, não estrague. E, aliás, se por acaso eu ainda tiver seis anos de idade e continuar em coma na UTI do Hospital Regina em Novo Hamburgo, também evitem me contar. Esta doideira que eu venho chamando de vida anda melhor a cada dia, viu?

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sexta-feira, 17 de abril de 2009

Milionários e exponenciais

Duas notícias na semana que passou apontam para o crescimento e a "mainstreamação" de duas mídias sociais específicas. A primeira é plataforma de comunidades digitais Ning, que chegou nesta quinta-feira à marca de um milhão de redes sociais criadas por usuários do seu sistema.

O Ning é o mais recente empreendimento de Marc Andreessen, um veterano do Vale do Silício que ficou conhecido por ser um dos criadores do Mosaic, o primeiro navegador web, e por ter fundado a Netscape Communications nos anos 90. Quem usava o Netscape Navigator lá na alvorada da internet deve lembrar do sujeito. O cliente de e-mail do Netscape trazia, na primeira inicialização, uma mensagem de boas-vindas do próprio.

Ao atingir a marca da milionésima rede social, o Ning conta com uma base de mais de 22 milhões de usuários registrados, dos quais cerca de seis milhões são considerados ativos. Números assim perdem na comparação com outros, muito maiores, registrados por serviços como Facebook e Twitter. Mas é preciso lembrar que no começo do ano o Ning renunciou a 20% do seu tráfego quando decidiu banir sites criados com conteúdo pornográfico. De qualquer forma, Andreessen não deve perder seu sono com a concorrência desses dois sites; ele tem capital investido em ambos.

Os usuários do Ning têm a possibilidade de criar redes sociais inteiras, com comunidades próprias, galerias de fotos e vídeos, perfis de usuário e blogs, com layout e recursos customizáveis e ferramentas flexíveis de moderação e propagação. Meus colegas da AgênciaClick e eu temos trabalhado com o Ning desde 2007, quando migramos todo o site oficial da agência para essa plataforma. Na época, a ferramenta ainda nem aparecia no radar da maioria dos desenvolvedores, mas a experiência que adquirimos nos ajudou a usar a tecnologia Ning em projetos para clientes como Bradesco, Mapfre, Klabin e AACD, para a qual recentemente lançamos o primeiro site de uma entidade brasileira do Terceiro Setor a ser construído em torno de uma arquitetura de rede social.

Em matéria do CNET News, Gina Bianchini, CEO do Ning, atribuiu o crescimento do serviço ao fato de ele dar espaço à criação de redes sociais voltadas a temas estritos mas muito populares. Ela cita como exemplo o fan-site oficial da série de livrecos e filmecos Crepúsculo, que em apenas dois meses ganhou 94 mil participantes. "Acredito que ninguém atualmente esteja pensando em dar espaço para as paixões e interesses das pessoas," – disse Bianchini à reportagem – "nem pensando nas pessoas com base nas suas paixões e interesses do jeito que nós pensamos".

A segunda notícia fala sobre o Twitter, que no mês passado viu seu tráfego mais do que duplicar. Não sei exatamente por que razão, mas essa notícia circulou meio silenciosamente pela rede. Talvez porque o passarinho azul tem estado tão na boca do povo de uns poucos meses para cá que esse tipo de informação já não surpreenda muito.

Segundo informações divulgadas pela ComScore dia 15, o serviço de microblog registrou um aumento de 131% em seu tráfego só durante o mês de março. Os dados referem-se apenas ao tráfego produzido por usuários americanos, mas mesmo assim impressionam, especialmente porque a percepção do Twitter aqui no Brasil também tem indicado crescimento. Não tive conhecimento de nenhuma estatística equivelente para o Brasil. Mas, se houver, ele provavelmente deve ter registrado um crescimento considerável da massa twitteira a partir da recente edição da revista Época que trazia o Twitter como matéria de capa.

O Twitter é um exemplo de como certos fenômenos chegam a um ponto em que crescem exponencialmente, e de que a separação do on-e do off-line faz cada vez menos sentido. Talvez a inacreditável aceleração de seu crescimento nas últimas semanas esteja ganhando a ajuda de uma simples lógica circular (conhecida informalmente no Brasil como a lógica "Tostines"): ele está na pauta da mídia tradicional por que não pára de crescer – e cresce ainda mais por aparecer na mídia tradicional.

Update em 20/04: o Fantástico, aquele grande ativador da melancolia dominical para tantos de nós, é mais um recente e graúdo nome da mídia "clássica" a twittar, com o perfil @showdavida. Ah, você segue? Eu não.

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quinta-feira, 9 de abril de 2009

O Manifesto Sabe-Tudo


Eu sei mais do que você. Convença-me do contrário.

Sério. Sou um sabe-tudo. Um desses bem insuportáveis. Sou parte do odiado grupo de pessoas que se acham melhores que as outras porque são mais informadas, pensam mais criticamente e se preocupam em defender seus pontos de vista de forma agressivamente convincente. Nós, sabe-tudos, somos assim. Dizemos “você está errado e eu vou provar” com grã alegria. Com um sorriso na cara. E não descansamos.

Se você não é um de nós, deveria ser. Aliás, se não é um de nós, está fazendo mal a todo mundo. Por favor, pare agora mesmo e dê meia-volta. É urgente.

O maior problema do Brasil não é a crise, a desigualdade, o governo do Fulano, do Cicrano, do Beltrano ou do Zé da esquina.

Aliás, vamos manter as coisas simples. O Brasil tem um único problema. Um só. Unzinho.

O problema do Brasil é que as pessoas têm nojo de gente sabida. Gente pedante. Gente sabichona. Não querem nem de longe ser vistas como parte dessa laia. Deus me livre e guarde de ser um sabe-tudo.

Desconhecer é o novo preto. É daí que vêm – e é assim que se perpetuam – o voto errado, o ciclo de pobreza, a falta de oportunidade, o poder paralelo, a celebridade vazia, a Lei de Gérson. Brasileiro odeia gente que sabe demais. Você inclusive. Até eu.

Além de ser sabe-tudo, metido, pedante, um sujeito de arrogância intragável, eu tenho outra característica odiosa. Eu extraio grande prazer intelectual do saber amplo. Das últimas descobertas em neurociência e psicologia evolutiva. Dos dados mais recentes sobre os satélites de Saturno. Da concepção quadridimensional do universo de Einstein.

Odeie-me. Deseje que eu morra. Seja um típico brasileiro orgulhoso. Quem sou eu para dizer que você está errado? Quem sou eu pra tirar você do berço esplêndido, do conforto fetal da ignorância? Da humildade, da louvável escola da vida? Ah, a escola da vida...!

Uma vez um sujeito me disse, apagando o cigarro e soprando a fumaça filosoficamente, existencialistamente, eu-li-a-contracapa-do-Zaratustramente:

– Não viaja, cara. Não existe verdade absoluta.

E eu:

– Não mesmo?

– Nop.

– Isso não pode ser verdade.

– Mas é, cara. Todo saber humano é regido por ideologias com as quais estamos comprometidos, cara. O que é verdade pra você pode não ser pra mim, cara. Tudo é relativo, cara.

– Não, não, não está me entendendo. Eu me refiro à frase "não existe verdade absoluta". Ela não faz sentido. É uma afirmação logicamente inviável. Porque pra ser verdade, ela tabém não pode ser absoluta. Precisa prever uma exceção a si mesma. E a única exceção possível para a regra "não existe verdade absoluta" é, bem... a existência de alguma verdade absoluta. Assim, para estar certo, você precisa estar errado.

– ...

– Pois é. Ahn... "cara".

Eu digo: não negue o absoluto. O absoluto é lindo. Dois mais dois são lindamente quatro. Sempre vão ser. O hidrogênio é lindamente o elemento químico mais leve do universo, hoje e sempre. "Ah, mas podem descobrir um mais leve que ele a qualquer momento", responde o imbecil mais próximo. Não, não podem. E se você não sabe o motivo, eu estufo meu peito e digo: sou melhor que você. Melhor não (só) para mim. Melhor para todos.

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quinta-feira, 2 de abril de 2009

Sobre idas e voltas


Bem, agora que o Primeiro de Abril passou, posso dizer que vou voltar a blogar e tenho até uma mínima chance das pessoas acreditarem em mim.

É (e sempre será) uma questão de vergonha na cara, de casa-de-ferreiro-espeto-de-pau. Até o blog do meu pai está (bem) mais movimentado do que o do social media man aqui, e portanto está na hora de voltar à boa prática blogueira.

Enquanto o hiato rolava por aqui, trabalhei nuns projetos legais, fiquei doente, fui jurado num julgamento (isso eu conto outra hora) e até tirei férias, o que segundo algumas pessoas quase ameaça a harmonia do continuum universal.

Mas não fiquei ausente da vida digital, é óbvio. Além daqui e do Twitter, também continuo como ghost-poster do blog da AgênciaClick, coisa que pelo bem das minhas contas eu hei de continuar fazendo.

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Subtexto

"Esse é o cara", diz Obama. "O político mais popular da Terra", acrescenta.



Acho que o presidente estadunidense quis dizer "o governo desse cara protagonizou o escândalo mais indecente de corrupção ativa na história do presidencialismo no planeta e ainda assim, contra os mais básicos princípios do respeito de um povo por si mesmo, ele conseguiu se reeleger com uma votação espetacular".

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