segunda-feira, 21 de julho de 2008

Cantiga de amigo


"It's still the same old story

a fight for love an' glory,
A case of do or die..."

É, a história é sempre a mesma. Cada castelo tem sua donzela, seu príncipe regente, seu bobo-da corte. Os muros e o fosso protegem das pedras e dos paus do inimigo, quando há. Mas e o dragão? Toda lenda de castelo tem dragão. E contra ele tem o cavaleiro andante, aquele sujeito que troteia por aí de armadura, espada e escudo em punho.

Toda vez que o dragão chega é a mesma baderna. A donzela corre pra torre, desesperada. O bobo, com seu título auto-explicativo, nem fica sabendo. O príncipe? Esse sobe a ponte levadiça, solta os crocodilos no fosso. Ora, se Sua Alteza vai meter suas alvas mãos naquele lagartão imundo! Ele acaba de fazer as unhas, faça-me o favor.

Sobrou pro cavaleiro, e é assim que tem que ser. Ele vai lá, se arrebenta, se queima, se quebra todo, mas põe o bicho pra correr. Faz tudo numa boa, na base da camaradagem mesmo. Não ganha prêmio, não ganha banquete na corte. Nem faz parte da corte, o cara. Lá de vez em quando um menestrel furreco fala dele numa música, mas nada muito além. Mas tudo bem. Afinal, Sir Fulano não está fazendo mais que sua obrigação. Se ele se importa? Nada! O cara é um romântico. Um desses idealistas que andam pelo reino defendendo ideais nobres. Está tudo ali, pintado no escudo dele, em latim.

Mas opa, lá vem o dragão de novo. E de novo, sozinho no descampado, fica o cara da espada. É bom com a espada esse Sir Fulano! E como sempre ele ouve o portão fechar com um "blam" e todo mundo se esconder lá atrás. Ai dele se tentar correr pra dentro. É caldeirão de óleo quente na cabeça.

Não tem jeito. É um trabalho sujo, mas alguém tem que fazer. O escamoso, como de costume, pára na frente dele, rosna, bufa, solta uma labareda pelas ventas. Nada de novo, certo? Lá vamos nós.

Só que dessa vez, o cavaleiro pára e pensa. Ele lembra de como vive sendo torrado e estraçalhado, e de como tem que se virar pra costurar as próprias feridas depois, enquanto no salão do castelo todo mundo comemora e enche a cara.

E não é que de repente ele lembra que tem seus próprios problemas pra cuidar? O dragão nem é assunto dele, no fim das contas. Talvez seja hora de largar essa vida, ir viajar, comprar uma casinha na montanha, aprender jardinagem.

E caramba, deixar a porcaria do dragão e a galera do castelo se entenderem sozinhos, que é todo mundo adulto e bem-crescido.

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4 Comentários:

Blogger Maiara disse...

Já bastam os dragoezinhos particulares que matamos todos os dias no nosso quintal!

7:35 PM  
Blogger Srta. akso disse...

A sua necessidade de vento, não combina muito com jardinagem.

8:48 PM  
Blogger Giórgia Giordano disse...

ótimo!
adorei as alus~eos medievais...
e o dragão... que se FODA o dragão! a hora que ele comer uns dois, ou três, ou estraçalhar a princesinha eles constroem muralhas mais altas ou descem São Jorge lá da lua... todo o o cavaleiro experiente aprende que quando a coisa aperta de verdade e a muleta entra em greve, todo o mundo dá um jeito!
é... parei pra pensar...

10:31 PM  
Blogger Limeriques disse...

Sensacional:
=)

E me perguntei quando terminei de ler:
" Caramba, pq ele ainda é um escritor inédito?"

11:16 PM  

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