O dragão chinês - um fragmento
Ele não sabia por onde começar a falar daquilo. Era como um dragão chinês colorido e colossal, do qual ele via apenas alguma porção do meio, sem saber para que lado ficava a cabeça, para que lado ficava a cauda, e a que distância estaria cada uma. Ainda assim, tentava extrair a essência do que passava, pôr em parágrafos escritos o material do qual eram feitos aqueles dias.
Este era um exercício ainda maior de limitação. Seria, pensou, como conter numa tampa de garrafa o oceano de algum planeta exótico, ou fazê-lo passar inteiro por um esguicho em seu jardim.
Ele via beleza, no entanto, nesse próprio fracasso. Era sublime ver que suas palavras não eram tão belas. Não eram tão claras. A língua que lhe permitiria falar daquilo ainda não havia terminado de ser criada – e esse era um processo que ele não haveria de concluir sozinho.
Enquanto isso, ele se perdia em contemplar o ziguezague no longo e festivo corpo do dragão. No ir e vir atemporal das curvas ritmadas, improváveis, musicais. Na celebração misteriosa do fantástico. Na concretização invisível. Como era possivel estar ao mesmo tempo frustrado, angustiado, oprimido até – e feliz, e realizado, e gigantemente esperançoso? Como pode alguém sentir-se contraditoriamente acompanhado de ausência, e ainda achar isso doce, e singelo, e sublime?
Tudo o que sabia era que havia se transformado num vasto e intrigante salão, preparado para o mais crucial banquete. Estava em compasso de angustiante espera, e ao mesmo tempo definitiva e continuamente habitado.
Este era um exercício ainda maior de limitação. Seria, pensou, como conter numa tampa de garrafa o oceano de algum planeta exótico, ou fazê-lo passar inteiro por um esguicho em seu jardim.
Ele via beleza, no entanto, nesse próprio fracasso. Era sublime ver que suas palavras não eram tão belas. Não eram tão claras. A língua que lhe permitiria falar daquilo ainda não havia terminado de ser criada – e esse era um processo que ele não haveria de concluir sozinho.
Enquanto isso, ele se perdia em contemplar o ziguezague no longo e festivo corpo do dragão. No ir e vir atemporal das curvas ritmadas, improváveis, musicais. Na celebração misteriosa do fantástico. Na concretização invisível. Como era possivel estar ao mesmo tempo frustrado, angustiado, oprimido até – e feliz, e realizado, e gigantemente esperançoso? Como pode alguém sentir-se contraditoriamente acompanhado de ausência, e ainda achar isso doce, e singelo, e sublime?
Tudo o que sabia era que havia se transformado num vasto e intrigante salão, preparado para o mais crucial banquete. Estava em compasso de angustiante espera, e ao mesmo tempo definitiva e continuamente habitado.
Marcadores: cool, literatura, subjetivações
1 Comentários:
Dragões chineses não tem asas. Phoda.
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