Conheça Emily Howell
Seu álbum de estreia levanta questões inadiáveis sobre o futuro da música. Entenda por quê.
A música abaixo foi escrita pela compositora Emily Howell, que lançou em fevereiro o seu primeiro álbum, intitulado From Darkness, Light. Ouça-a atentamente.
Mesmo que você não seja um amante do piano ou da música erudita, e mesmo sendo impossível para mim prever que emoção você teve ou que tipo de imagem essa melodia fez passar pela sua cabeça, é seguro dizer que você pelo menos sentiu alguma coisa. Eu me arrisco a dizer que ela pode ter evocado em você emoções melancólicas, e que é provável que você a tenha achado um pouco triste. Talvez você até a classifique como bonita. Talvez a considere simplória. Na verdade, não importa. O que torna Emily Howell potencialmente revolucionária para a música não é apenas como ela soa, mas quem ela é.
Emily Howell é o nome de um programa de computador criado pelo pesquisador David Cope, da Universidade da Califórnia. É o primeiro software capaz de fazer algo que até hoje foi tido como domínio exclusivo do ser humano: criar música original, harmoniosa... e bela.
O software é capaz de reagir a estímulos - que seu criador chama de "críticas". O operador diz o que quer usando comandos em texto ou tons musicais, e Emily Howell vai alterando sua música de acordo. Em uma entrevista recente à NPR, Cope afirmou que a base de conhecimento musical de Emily vem de um programa criado anteriormente por ele, chamado Emmy ou EMI - sigla em inglês para "Experimento em Inteligência Musical". O Emmy era capaz de analisar partituras de compositores clássicos como Mozart e Bach, e então imitar, em uma partitura nova, o estilo do compositor analisado. Emily Howell parte desse banco de dados e, reagindo aos comandos de Cope, cria sua obra. Segundo ele, é como "compor em parceria".
Emily Howell vai um passo além de criar composições novas e originais. Ela consegue soar convincentemente humana. Ela pode ser o primeiro programa de computador capaz de atender a um critério muito comumente usado para definir a verdadeira inteligência artificial: passar no Teste de Turing, um experimento em que um juiz humano, em uma sala isolada, entrevista em janelas separadas de chat um ser humano e um computador, tentando determinar qual é qual. A verdadeira inteligência artificial seria capaz de enganar o juiz, fazendo-o pensar que conversa com um humano verdadeiro. Se o teste for adaptado para a música, Emily Howell é uma candidata fortíssima.
Isso nos obriga a revisar conceitos como autoria, originalidade, valor artístico, inspiração e os limites entre tecnologia e humanidade. Quer um exemplo? Vamos pelo mais imediato: você pode argumentar que não é possível chamar de música uma sequência matemática calculada friamente. Mas toda música é baseada em matemática. Se a matemática de Emily cria sons capazes de provocar reações emocionais em um ouvinte humano, será que o método como esses sons foram compostos ainda importa?
E há as implicações éticas. O que acontece, por exemplo, se um artista usar Emily para compor suas canções, mas não lhe der o crédito? Será que é sensato, aliás, sequer cogitar créditos para Emily? Além disso, se essa tecnologia for desenvolvida a ponto de poder ser usada na indústria cultural, talvez estejamos indo em direção a um futuro em que as gravadoras poderão controlar matematicamente todo o processo criativo da música que comercializam, e depois apenas contratar rostos bonitos para cantar e aparecer em videoclipes. Mas será que isso é muito diferente do que elas já fazem hoje?
Eu não tenho as respostas para essas perguntas, e não sei se estaria pronto para viver num mundo em que Blade Runner anda de mãos dadas com Milli Vanilli. Por outro lado, eu já ignoro o que as grandes gravadoras fazem há anos - e confesso que o pianinho de Emily Howell me agradou mil vezes mais do que qualquer coisa que esteja tocando na MTV hoje em dia. Se isso é bom ou mau sinal, aí é outra história.
A música abaixo foi escrita pela compositora Emily Howell, que lançou em fevereiro o seu primeiro álbum, intitulado From Darkness, Light. Ouça-a atentamente.
Mesmo que você não seja um amante do piano ou da música erudita, e mesmo sendo impossível para mim prever que emoção você teve ou que tipo de imagem essa melodia fez passar pela sua cabeça, é seguro dizer que você pelo menos sentiu alguma coisa. Eu me arrisco a dizer que ela pode ter evocado em você emoções melancólicas, e que é provável que você a tenha achado um pouco triste. Talvez você até a classifique como bonita. Talvez a considere simplória. Na verdade, não importa. O que torna Emily Howell potencialmente revolucionária para a música não é apenas como ela soa, mas quem ela é.

O software é capaz de reagir a estímulos - que seu criador chama de "críticas". O operador diz o que quer usando comandos em texto ou tons musicais, e Emily Howell vai alterando sua música de acordo. Em uma entrevista recente à NPR, Cope afirmou que a base de conhecimento musical de Emily vem de um programa criado anteriormente por ele, chamado Emmy ou EMI - sigla em inglês para "Experimento em Inteligência Musical". O Emmy era capaz de analisar partituras de compositores clássicos como Mozart e Bach, e então imitar, em uma partitura nova, o estilo do compositor analisado. Emily Howell parte desse banco de dados e, reagindo aos comandos de Cope, cria sua obra. Segundo ele, é como "compor em parceria".
Emily Howell vai um passo além de criar composições novas e originais. Ela consegue soar convincentemente humana. Ela pode ser o primeiro programa de computador capaz de atender a um critério muito comumente usado para definir a verdadeira inteligência artificial: passar no Teste de Turing, um experimento em que um juiz humano, em uma sala isolada, entrevista em janelas separadas de chat um ser humano e um computador, tentando determinar qual é qual. A verdadeira inteligência artificial seria capaz de enganar o juiz, fazendo-o pensar que conversa com um humano verdadeiro. Se o teste for adaptado para a música, Emily Howell é uma candidata fortíssima.
Isso nos obriga a revisar conceitos como autoria, originalidade, valor artístico, inspiração e os limites entre tecnologia e humanidade. Quer um exemplo? Vamos pelo mais imediato: você pode argumentar que não é possível chamar de música uma sequência matemática calculada friamente. Mas toda música é baseada em matemática. Se a matemática de Emily cria sons capazes de provocar reações emocionais em um ouvinte humano, será que o método como esses sons foram compostos ainda importa?
E há as implicações éticas. O que acontece, por exemplo, se um artista usar Emily para compor suas canções, mas não lhe der o crédito? Será que é sensato, aliás, sequer cogitar créditos para Emily? Além disso, se essa tecnologia for desenvolvida a ponto de poder ser usada na indústria cultural, talvez estejamos indo em direção a um futuro em que as gravadoras poderão controlar matematicamente todo o processo criativo da música que comercializam, e depois apenas contratar rostos bonitos para cantar e aparecer em videoclipes. Mas será que isso é muito diferente do que elas já fazem hoje?
Eu não tenho as respostas para essas perguntas, e não sei se estaria pronto para viver num mundo em que Blade Runner anda de mãos dadas com Milli Vanilli. Por outro lado, eu já ignoro o que as grandes gravadoras fazem há anos - e confesso que o pianinho de Emily Howell me agradou mil vezes mais do que qualquer coisa que esteja tocando na MTV hoje em dia. Se isso é bom ou mau sinal, aí é outra história.
3 Comentários:
Que medo, cara.
Penso nessa questão como se fosse na fotografia.
Explico. Existem cameras extremamente fodas, que por sí só (entenda isso como 'modo manual') fazem retratos lindos.
Porém se o fotógrafo souber o que está fazendo a foto sairá ainda mais bela, e se fotografo for um mané a foto sairá um cocô. Em ambos os casos o crédito da foto não será da câmera, e sim do fotógrafo.
E mais, isso não excluí o fato das cameras point-and-shoot também fazerem fotos lindas.
No final teremos coisas bonitas de se ver (no caso da/do Emily, ouvir) de qualquer jeito.
--
Deu para entender minha opinião ou fui confusa?
Deu pra entender claramente, Patrícia.
Mas eu acho que as questões levantadas são mais complicadas do que isso. Emily não é apenas uma ferramenta, ela cria música. Entendo a analogia com a câmera, mas Emily seria como ter uma câmera que ouve de você o que precisa ser fotografado, e depois anda por aí escolhendo o que e como clicar.
Esquisito, não?
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