sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O fim tosco do programa FX-2

Para Planalto, decisão sobre caças é política. Infelizmente.

Dois relatórios da Força Aérea Brasileira (FAB) agitaram esta semana o debate em torno da compra de 36 novos caças a jato para a defesa do País. O primeiro teria chegado às mãos da imprensa na terça-feira, dia 5, e recomendava a aquisição do modelo sueco Gripen NG, atribuindo a escolha a vantagens comerciais e de transferência de tecnologia, uma vez que essa versão do modelo ainda está em fase de projeto e seria produzida no Brasil em uma possível parceria com a Embraer. O Gripen, desenvolvido pela Saab, foi apontado como a opção mais barata, com menor custo de manutenção, com o projeto mais flexível e com os maiores ganhos para a indústria aeronáutica nacional. O Rafale, proposto pela francesa Dassault, foi apontado como o mais caro e o menos vantajoso dos três finalistas.

A recomendação criou um mal-estar entre o comando da FAB e o Planalto. Isso porque, desde setembro de 2009, a Presidência da República vem manifestando publicamente sua preferência pelo Rafale (foto à esquerda), favorecido no contexto político pelo nosso eterno rala-coxa com o governo francês. O documento da última terça pôs o Rafale em último lugar na avaliação, abaixo mesmo do norteamericano F/A-18 E Super Hornet, que ficou em segundo.

O governo, no entanto, reagiu ao relatório declarando que "a decisão final é política". Segundo o Planalto, quem vai bater o martelo sobre o modelo vencedor é o presidente Lula, e só ele.

Hoje (8/01), uma matéria no site do jornal O Estado de S. Paulo noticiou a entrega de um segundo parecer, o relatório final da FAB, ao governo. O novo documento, segundo o jornal, não apresenta um ranking de preferências, apresentando em vez disso uma lista de pontos fortes e fracos para cada uma das três aeronaves finalistas. Segundo a publicação, o relatório atenuaria a tensão entre militares e o Planalto por "permitir que o governo prefira o Rafale". Segundo alguns analistas, cada Rafale custa o preço de dois Gripen NG.

Eu não sei o que é pior. Se é a Presidência tomar em suas mãos uma decisão tão complexa e distante das suas atribuições, desperdiçando anos de estudo e análises técnicas – ou se é a FAB recuar diante disso. O que eu sei é que quem irá operar esses aparelhos é a FAB. Quem realmente entende de aviação militar nessa questão toda é a FAB. Quem estudou as máquinas concorrentes e suas tecnologias, quem compreende as necessidades militares do Brasil e quem é habilitado a escolher qual avião melhor irá atendê-las é... a FAB, lógico. E não o Planalto, que pode entender tudo de política (é...), mas não sabe a diferença entre um motor de avião e um aspirador de pó.

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