terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Papai Noel não vai trazer nada para a FAB

Caças novos, só em 2010

O anúncio sobre qual avião será o novo caça a equipar a Força Aérea Brasileira foi adiado para o começo de 2010, segundo o próprio presidente Lula.

O adiamento não surpreende ninguém. Afinal, o anúncio havia sido postergado para o final de 2009, depois de rumores de que seria feito em 23 de outubro. Antes, disseram que seria em 7 de setembro. Antes, em algum momento deste ano. E assim retroativamente desde o começo da década, quando primeiro se falou em uma licitação para eleger os substitutos dos caças Mirage III.

No momento, são três os finalistas na concorrência que irá definir os novos caças da FAB. O francês Rafale F3, da Dassault; o sueco Gripen NG, da Saab (parecido com o da foto lá no alto); e o norteamericano F/A-18 E Super Hornet, da Boeing.

A FAB precisa desesperadamente de aviões novos. Nossos esquadrões de caça não compram nenhum avião zerado desde os anos 70. Perdas ocasionais têm sido repostas com aviões usados de outros países. É o caso dos Mirage 2000, comprados da França num negócio que a imprensa especializada chama abertamente de Meia-Sola. Apesar do "2000" no nome, são aeronaves do começo dos anos 80, que os franceses estão passando adiante. Eles vieram substituir os Mirage III setentistas, que foram usados até virar peças de museu.

A FAB, aliás, faz milagres com esses aviões antigos. Vejam o exemplo dos caças americanos F-5, que que são contemporâneos dos Mirage III, do LSD e das calças boca-de-sino. Em parceria com a Embraer e empresas brasileiras e israelenses, toda a eletrônica e computação de bordo foi trocada por tecnologia de última geração. A FAB até comprou alguns F-5 aposentados da Jordânia para aproveitar só o "gabinete", por assim dizer, instalando tudo novo nos bichos. A foto acima mostra um deles sendo montado no Campo de Marte, em São Paulo, em outubro último (clique na imagem para ampliar).

Mas fazer isso é mais ou menos como instalar MP3 player e GPS num Corcel II. Ele continua sendo um Corcel II, com todos os custos de manutenção e conservação que não existem num carro novo. A FAB precisa ir às compras, e logo.

Foto do Gripen: flickr.com/aereimilitariorg

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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A galáxia artificial

E o céu da metrópole

O Planetário Professor Aristóteles Orsini, conhecido como Planetário do Ibirapuera, vai ficar temporariamente fechado entre hoje (14/12) e o dia 9 de janeiro de 2010 para manutenção preventiva.

Eu fui ontem assistir a uma das últimas apresentações de 2009, chamada O Lado Escuro do Universo, e deu para entender por que tanto cuidado com os equipamentos. O planetário é equipado com um projetor esférico Zeiss Starmaster, capaz de recriar no teto do lugar todas as constelações do céu noturno em qualquer época, com uma precisão e beleza de deixar qualquer um de olhos molhados.

É realmente uma experiência. As luzes se apagam, a música cresce e a Via Láctea brilha inteira, com seus milhões de astros num "céu" escuro e perfeito, em plena tarde de domingo. Como se fosse alta madrugada, e como se a pessoa estivesse muito longe de São Paulo.

Planetários são um desses sintomas engraçados da vida moderna. Nossas cidades cheias de lâmpadas e fumaça criaram uma noite parda e sem estrelas que nunca existiu antes. Aí inventamos lugares hi-tech onde entramos pagando ingresso e deitamos em poltronas de cinema sob um céu sintético, feito de luzes computadorizadas, lasers e LEDs. E saímos de lá (como aconteceu comigo) de queixo caído, abobalhados com a grandeza, a poesia, a elevação toda. Não seria ainda melhor apenas apagar a luz?

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domingo, 6 de dezembro de 2009

A Princesa e o Sapo

Velhas tradições dos estúdios Disney

Ontem, por cortesia do bloglord Alexandre Inagaki, eu fui assistir à pré-estreia de A Princesa e o Sapo, nova animação dos estúdios Disney, e saí do cinema com sentimentos mistos.



Primeiro, é muito legal que a Disney tenha feito um novo longa de animação 2-D. E os caras capricharam. Mesmo com algumas transgressões, o filme tem o traço e a ambientação mística dos grandes clássicos do passado.

Mas ele recorre a outros expedientes típicos da marca, também. Como eu não quero fazer nenhum spoiler, vou contar pra vocês como eu imagino que tenha sido o processo criativo.

CENA: Interna. Cerca de 20 andares abaixo do térreo dos Estúdios Disney. Diretores de arte, roteiristas, redatores de diálogo e argumento estão diante do altar para a reunião semanal. Velas acesas iluminam o enorme retrato de Walt Disney na parede. A cabeça congelada do fundador é o centro das atenções.

– Ó, espírito imortal de Walt Disney! Ó, fundador excelso de sabedoria infinita! Criamos um novo filme para glorificar vosso nome! Fizemos um conto de fadas com princesas e príncipes encantados!

– Sim, ó líder grandioso! Fizemos algo imaginativo e mágico! Com música e bichinhos falantes! Um conto de fadas às avessas que se passa em Nova Orleans! E o vilão é um macumbeiro vodu! E a princesa é negra!

–Oh, líder sábio e padroeiro! O que devemos fazer para tornar A Princesa e o Sapo um verdadeiro clássico? Do que nosso filme precisa para ser tão inesquecível quanto... Bambi?

Um vento sombrio apaga todas as velas. Os olhos da cabeça congelada brilham com uma luz vermelha medonha. Uma voz gutural ecoa feito um trovão:

– M O R T E...

Os funcionários se entreolham, cochicham uma coisinha ou outra, preocupados.

– Mas senhor... é um filme... para crianças!

– M A T E M o personagem mais engraçadinho! – urra a voz de Walt, tenebrosa, direto do além.

– Mas senhor... é desnecessário para a trama!

– É, e as crianças vão sofrer e chorar!

– FAÇAM O QUE EU DIGO!

– Sim senhor! Sim senhor!

– MUAHAHAH!



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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Maracutaia e hiperrealidade

A corrupção brasileira e o consumo de informação

Esses dias, uma celebrada matéria da The Economist falando sobre a decolagem econômica do Brasil tocou num ponto dolorido. Segundo a revista, no País que um dia foi governado por um regime ditatorial militar, hoje "uma imprensa livre e vigorosa denuncia a corrupção, embora ela exista em grande quantidade e boa parte dela fique impune".

Esta semana, aconteceu de novo. Os telejornais repetem sem parar as imagens do governador do Distrito Federal e seus asseclas recebendo bolos de dinheiro e escondendo a grana em cuecas e meias, que é pro fisco não comer.

E está tudo ali. A risada debochada, as portas fechadas, a dissimulação, o ato de esconder dinheiro aos maços em lugares pouco convencionais da roupa e do corpo. Tem até um vídeo em que os envolvidos se abraçam e oram, agradecendo a Deus pela propina.

A corrupção brasileira fincou os dois pés na era das grandes tragédias captadas em vídeo. E assim como acontece em catástrofes de impacto global, apenas saber da desgraça já não nos satisfaz. Precisamos ver o vídeo da coisa acontecendo, repetir mil vezes, regurgitar o terror da coisa toda até todo mundo se cansar. E eu me pergunto se não é nisso que estão todos se concentrando dessa vez. Nas imagens. Nesse negócio nojento que é ver e rever os horrores - e se contentar com isso - em vez de cobrar que sejam punidos.

Eu me pergunto, também, se essa visibilidade crescente vai ter algum efeito prático na nossa formação como pessoas cívicas, ou se tudo o que as vozes do Brasil conseguirão repetir será, mais uma vez, um invejoso e cada vez mais tóxico "cadê o meu".


Foto: http://www.flickr.com/photos/danisarda/

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